sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Catherine Wheel


Depois do Nirvana o dito rock alternativo passou a abranger quase tudo, e nunca foi tão démodé e pretensioso esconder-se no underground. O que as bandas que insistiram em fazê-lo não sabiam é que não há nada de errado com o Pop. Há até um sarcasmo interessante no fato de já se auto-denominar Pop. Com raras exceções, que conseguem passar ao largo dessa praga, as coisas mais interessantes de todo o rock foram intencionalmente uma resposta à saturação de alguns elementos do Pop.
O início dos anos 90 é marcado pela tecnologia dos pedais de efeito para guitarra, que reunia bandas sob a muito genérica definição guitar band. O rock alternativo, depois do nirvana, engolfou tudo isso. Mas o começo dos anos 90, em oposição ao sintetizador nos anos 80, foram os anos alquímicos do efeito de guitarra. O shoegaze era sua versão mais estratificada; o Sonic Youth não satisfeito aventurou-se em novas afinações (escola Glenn Branca), e o pixies, na esteira expressionista de Pere Ubu, descobriu como limpar as produções, dotando-a de definição.
Talvez o pixies tenha sido responsável por uma fórmula que nutriria por muito tempo falta de criatividade disfarçada pela produção, mesmo não sendo esse o seu caso. Smells like teen spirit é a prova e também a exceção.
Uma banda vastamente ignorada que faz aquela época parecer mais frutífera do que foi e também provar a minha teoria é o Catherine Wheel. Especialmente o disco Chrome, produzido pelo gênio por trás dos timbres perfeitos de Doolittle, Gil Norton. Às raias do shoegazing, embora a voz esteja bem mais à frente e não esconda um apelo Pop, que contém o sotaque inglês facilmente reconhecível de Ride a Oasis, fazem um rock bem básico ainda que envolvente. Trivia: o vocalista é primo de Bruce Dickinson. Já se pressente traços do lixo de bandas inúteis como Bush, no entanto, perdoáveis por uma notável inocência. O sucesso local faz jus a pretensão da banda, com um disco maravilhosamente produzido e shows infames. Para mim, é também registro de um tempo promissor, o começo dos anos 90. Sem contar que é excelente companhia para se dirigir à noite pela cidade.