quarta-feira, 20 de junho de 2012

o canto do cisne




(recomenda-se leitura acompanhada de:)
Swans - Little Mouth
(My Father Will Guide Me Up a Rope to the Sky)

Tudo começou na despedida. Já na porta de casa senti que fazia o que era certo: sair para uns dias longe de tudo, com motivos reais e motivações, ulteriores, ainda mais prementes. A conversa com o taxista no longo trajeto até o avião me deixava ainda mais contente de estar, por alguns dias, abandonando o Inferno. Filhos mortos pelos pais, amantes esquartejados e traições fascinantes me convenciam de que eu fazia a Coisa Certa. Precisava respirar.

Pouco depois entrei na máquina. Um avião velho, com hélices. Parti para o meio do nada. De um lado, a janela e a hélice girando nem tão veloz quanto se imaginaria, o azul do céu a perder de vista e montanhas… montanhas e montanhas. Do outro, pessoas simplórias, interioranas, meio acanhadas, nada ingênuas, tampouco boas, apenas simples. Duas garotas de programa iam de avião visitar a família em algum ponto perdido do país naquele fim de semana.

Com saudade dos gatos, tentava me animar contemplando a perspectiva dos dias que viriam, longe de uns problemas, perto de outros, na companhia de quem, não duvido, me ama, apesar de demonstrar de forma trôpega.

E ir para o meio do nada raramente é simples, após duas horas de vôo, fui forçado a mais duas horas de espera por um ônibus de beirada de estrada para me levar, após mais duas horas, ao meu destino real.

Quando enfim cheguei, já era noite. Caminhei da rodoviária até casa. Passei por onde morei toda minha vida e jurei poder ver o fantasma da minha juventude ainda pairando por ali, na água da fonte. Continuei caminhando, piegas, ouvindo minha música, pensando onde é que tudo foi dar um pouco errado, em que momento eu fui abandonar o que eu queria por uma ilusão de que eu poderia ser qualquer outra coisa que não aquilo que sempre quis.

Quando vi o avião na ida não tive tanta certeza de que queria aquela aventura. Quando vi a máquina pronta para voltar, dias depois, tive a mesma sensação. No breve tempo que passei longe, me senti cercado de amor de verdade e senti que lá o tempo não passa, não pra mim. Voltei agora e me sento em casa escrevendo isso, tomando fôlego pra fazer o que me parece certo… torcendo para que eu possa discernir o que é certo do que é errado e que eu seja forte para não me importar caso esteja errado. Mais uma vez.