quinta-feira, 17 de julho de 2008

Unmagnificent lives of adults

Algumas músicas tornam-se trilhas sonoras para momentos, estados de espírito e às vezes fases inteiras de nossas vidas, independente da qualidade. Seja pela intensidade do momento, ou pela vulnerabilidade do estado de espírito ou pela companhia que marcou tal fase, por mais que façamos um esforço para nos desvencilharmos daquela memória, quando a música toca nos tornamos novamente cativos daquele universo. Ainda assim acredito poder dizer que uma música tem valor independente da minha experiência com ela. Nós, os que dedicam mais tempo do que o razoável a apreciação musical, com o tempo aprendemos a obter prazer de um mundo que a música em si nos apresenta. Claro, um mundo que seria sem cor nem vida se não o animássemos com nossas próprias experiências e coloríssemos com a nossa palheta pessoal.
Este preâmbulo deve me autorizar a eleger o melhor disco, e talvez melhor amigo, de 2007: Boxer, do The National. Sim, é um amigo, da minha idade (You know I dreamed about you for 29 years before I saw you), descobrindo toda a beleza e ansiedade da maturidade, tardia e recém adquirida. É um disco reflexivo, auto-consciente da considerável perda de entusiasmo que consiste em tornar-se adulto, mas também satisfeito com a segurança e estabilidade que isso acarreta.
Na contramão de toda uma remessa de bandas produzidas sob medida para rejuvenescer o rock, dar uma nova vestimenta ao esqueleto cansado do rock, The national caminha lentamente, de madrugada, pela cidade que repousa após mais um dia de trabalho, sem ambições monumentais, e por isso, mais honestamente. Enquanto os dois primeiros álbuns (auto-intitulado e Sad songs for dirty lovers) soam hesitantes e sem direção, o próximo, Alligator, é pungente e vivaz como uma descoberta que determina o destino de uma vida. E finalmente, a firmeza pé-no-chão de Boxer.
Para alcançar essa maturidade, reúnem-se o sóbrio barítono de Berninger, as equações rítmicas do matemático Devendorf, a serenidade melódica nos dedilhados de Bryce Dressner.
Portanto, aqui coincidem as qualidades de uma banda de valor, e de uma trilha sonora em total sincronia com minha vida.


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