terça-feira, 22 de julho de 2008

Hüsker Dü = Você se lembra?

Roqueiros de todas as espécies nascem na puberdade. É engraçado pensar o fator hormonal na descoberta do rock. Subir no palco com uma guitarra deve ser algum símbolo de virilidade dos nossos tempos. Lembro-me como estimulava minha imaginação ver meu irmão mais velho, ovelha negra da família, escutando Jimi Hendrix enquanto se preparava para sair na noite. Na minha inocência imaginava grandes amigos indo às mais loucas festas, lindas garotas, e talvez, alguma rixa para tornar as conquistas mais heróicas. Quando chegou a minha vez de conferir as delícias do mundo adolescente minha decepção não podia ser maior. Mal sabia eu que o momento de maior diversão da noite era aquele, ao preparar-se para sair escutando as bandas favoritas e imaginar como poderia ser boa aquela noite!
E não importa o tamanho da cidade, se alguém tiver a chance de ter ao menos uma noite de vencedor daquelas na vida, considere-se meu herói. Pois nas cidades pequenas compensamos no álcool o que a falta de diversidade nos nega, e nas grandes cidades estamos sujeitos a tanta hostilidade e indiferença que dificilmente há algum contato e diversão real entre as pessoas.
E se alguma vez eu quis ter uma banda, não foi para subir ao palco, ser assediado por groupies, ou medir o tamanho do meu pênis, mas para retribuir aqueles bons momentos que me proporcionaram aqueles porta-vozes das minhas expectativas, fadadas a frustração. Era assim que o punk rock soava para mim, muito antes de entender o que diziam os ganidos. Por acaso, passei a prestar atenção nas letras de bandas como Ramones, Misfits, Dead Kennedys e Minor Threat, e ainda, apesar de todas as diferenças (morbidez, ingenuidade, engajamento, ascetismo...), o que ainda pareciam me dizer é: como pode ser entediante a juventude! E repetindo esse resmungo no refrão pareciam exorcizar também o conformismo de crescer e tornarem-se adultos funcionais. Desconfio até daqueles que acreditavam estar lutando por alguma nobre causa. No fundo só queriam uma noite de diversão despreocupada, como qualquer pessoa.
Se tem uma banda seminal de punk rock que concorda comigo é o sker Dü. Conseguiam transformar a frustração e alienação adolescente em energia e momentos marcantes para walkman (também funciona em mp3). Como na volta para casa: a festa não foi legal, você não tem carona, chove, o ônibus demora e você se pergunta quando esse suplício ficará para trás. No entanto, Bob Mould canta a plenos pulmões: These are your important years, your life!
Eles conseguiram colocar alguma melodia e verdade naquele refrão, e até mesmo reverter o tédio, transformando aquela rotina de fazer nada com os amigos em momentos memoráveis.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo texto...
E por incrível que pareça não é tão fácil ver textos bacanas sobre o Hüsker Dü por aí...
Pelo visto vou continuar acessando esse blog...

Herminio disse...

Nossa, do nada embrei desse texto hoje e fui procurar para lê-lo mais uma vez... Muito bom mesmo! @herminio_

Unknown disse...

Puts...
De repente, ao ler esse texto, me pego em antigas lembranças (ótimas por sinal).
Sei bem como são esses momentos memoráveis, seja bebendo em uma bela praça, "se jogando" em uma universidade ou virando a noite numa praia tão molhada dentro quanto fora d'água.
Hehehe!