segunda-feira, 7 de julho de 2008

Meios Para Fins Alguns

Suponha-se andando por uma calçada. É noite, faz frio, você vira uma esquina. Na sua frente aparece um homem, por volta de seus 50 anos, ele veste uma túnica, sua cara pintada como se estivesse preparado para uma guerra santa que ele mesmo havia previsto décadas antes. Com um bafo de charutos ele começa a gritar em sua voz rouca, afinal, são décadas consumindo os cubanos, falando sobre o fim do mundo, hecatombes nucleares, meteoros que cairão do céu, multinacionais controlando seus pensamentos. Ele te indaga sobre quem você pensa ter construído as pirâmides, quem nos deu a sabedoria da matemática, se você realmente acredita que Maria foi fecundada por um espírito. Sem pestanejar, ele cacareja uma gargalhada gutural e te encara com olhos fascinados.

Fosse um louco qualquer, você viraria as costas, contaria essa história para alguns amigos, dariam umas risadas e, em breve, esqueceria o caso. Mas se o nome dele for Jaz Coleman, é bem provável que você tenha se impressionado e de fato acreditado em, pelo menos, metáde de suas previsões e elucubrações sinistras.

Incertezas, histórias de versões duvidosas, fugas temendo o fim do mundo isolando-se na Islândia (angariando o ódio de certa mocinha que, décadas mais tarde, se tornaria uma estrela), acusações de nazismo, entre outras lendas, cercam seu nome, mas apenas uma coisa é verdade irrefutável; Jaz Coleman, junto de Geordie Walker, Martin 'Youth' Glover e 'Big' Paul Ferguson formaram um dos grupos mais influentes, originais e incomparáveis do movimento Pós-Punk, o KILLING JOKE.

Como eu, muitos tiveram seu contato com o Killing Joke (KJ para os íntimos) através do Metallica, quando gravaram The Wait, em seu Garage Days Re-Revisited, segundo disco consistindo apenas de covers, nos idos de 87, ainda nos meus anos de metal, e, por isso, tenho apenas a agradecer ao Metallica. Talvez, não tivesse sido por eles, eu jamais teria conhecido o KJ e, assim, me privado de ouvir obras primas como... bem... como praticamente tudo que eles gravaram desde seus primeiros singles no final da década de 70 até hoje.

Certo é que, desde seus primeiros vestígios gravados, até os dias de hoje, sofrendo várias mutações em sua formação ao longo das décadas (e, recentemente, voltando à formação original), o som da banda passou por muitas mudanças; indo desde um dub bizarro e auspicioso (Turn to Red), mais tarde solidificando a estética do que viria a ser o Pós-Punk em seus discos lançados entre 81 e 84 (Killing Joke, What's This For...?, Fire Dances e Revelations), passando por fases um pouco mais pop (Night Time e Brighter Than 1000 Suns) e até um pequeno deslize (Outside the Gate), indo até o mais puro e inspirado metal - às vezes industrial - (Extremities, Pandemonium, Democracy, Killing Joke e, o mais recente, Hosannas From the Basements of Hell), a banda sempre soube se manter relevante. Apesar de todas as mudanças estéticas sofridas, uma coisa permaneceu imutável, e talvez seja essa a essência do que diferencia o KJ de todas as outras bandas do mesmo período: a loucura de seu front-man, sua fascinação com desastres atômicos, com o Obscuro, suas referências Crowleyanas, suas divagações ao melhor estilo 'Eram os Deuses Astronautas?' e, last but not least, seu talento indiscutível.

"Man watching video
The bomb keeps on ticking.
He doesnt know why
He's just cattle for slaughter"

Sua visão catastrófica do Homem e seu futuro parece, assustadoramente, cada dia mais próxima da verdade, e é praticamente impossível sentar-se, ouví-lo gritar apaixonadamente cada uma de suas "alucinações" acompanhado pela parede sonora da maravilhosamente inimitável guitarra de Geordie Walker e não se pegar em um momento ou outro pensando: "Será?". Impossível nao (querer) se convencer de que não foi um Lightbringer que nos deu conhecimentos que julgamos inerentes ao homem, de que toda a evolução da raça humana é uma mentira.

O que parece, no final de tudo, é que Killing Joke é muito mais que uma banda, é um veículo para a disseminação das crenças de uma mente 'especial', cujo dono se chama Jaz Coleman. Entretanto, mesmo que tudo isso seja uma besteira, que ele esteja tão errado quanto o louco imaginário do primeiro parágrafo, isso não diminui em nada o poder devastador e envolvente da banda, o que a transforma, definitivamente, numa das forças mais marcantes da história do rock.



Killing Joke - Unspeakable
(do disco What's This For...!)



Discografia:

Killing Joke (1980) * * * * * √
What's This For...! (1981) * * * * * √
Revelations (1982) * * * * * √
Fire Dances (1983) * * * * * √
Night Time (1985) * * * * * √
Brighter Than A Thousand Suns (1986) * * * * *
Outside the Gate (1988) *
Extemities, Dirt & Various Repressed Emotions (1990) * * * * * √
Pandemonium (1994) * * * * * √
Democracy (1996) * * * * *
Killing Joke (2003) * * * * *
Hosannas From the Basements of Hell (2006) * * * * *

√ - (Volume-11 pick)

4 comentários:

Homem Elefante disse...

isso que é banda, caraio!!!

7polegadas disse...

Texto animal!!! hail the almighty Joke!!!

7polegadas disse...

Hail the almighty Joke!!!

7polegadas disse...

Hail the almighty Joke!!!