sábado, 12 de julho de 2008

O verão de Love


Em menos de um mês em 2006 morreriam dois homens e seriam duas perdas insubstituíveis, como todas perdas desse gênero são. Um deles seria Syd Barrett, e, naturalmente, se faz desnecessário qualquer preâmbulo. O outro, Arthur Lee.
Embora, como no caso de Barrett, o simples pronunciar do nome de Arthur devesse erradicar qualquer obrigação de introduções e explicações, o destino não quis dessa forma, e é ele, o destino, o único a ser culpado quando alguém como Arthur Lee não se torna uma lenda, daquelas que habitam o lugar sagrado reservado àqueles que foram melhores que nós e tão melhores que nós que dedicaram sua vida à, com sua música, tornar a nossa vida melhor.
Arthur Lee deveria sempre ser citado no mesmo fôlego que o supracitado Barrett e até John Lennon, como um dos compositores mais importantes dos últimos 30, 40 anos do século passado, deveria ter suas músicas ao lado de qualquer uma dos Beatles no Panteão Sagrado das Canções que Mudaram O Mundo.
Foi com seu grupo, LOVE, que Arthur Lee pode dar vazão à todo seu talento, sua necessidade insuportável de fazer de simples composições pop artefatos de valor inestimável, futuras relíquias da genialidade de um homem que permaneceriam soterradas pelo mal gosto generalizado como se fossem sementes de vida latente esperando alguém algum dia lhes dedicar o mínimo de atenção para que florescessem em algo de beleza jamais vista.
Foi assim que em 1967 Arthur Lee e seu Love surgiam em Los Angeles com um álbum que deveria estar em todas as listas jamais feitas ao lado de Pet Sounds (lançado um ano antes) e Sgt. Peppers e Their Satanic Majesties Request, ambos lançados no mesmo incrível 67, como um dos mais influentes e importantes registros musicais dessa década e de todas as outras que seguiriam.
FOREVER CHANGES era, então, o terceiro disco da banda, e o Love já possuía em seu currículo o primeiro, auto-intitulado, datando de 1966, e o excelente Da Capo, gravado também em 67. No entanto, foi com esse terceiro e definitivo álbum que a perfeição foi atingida. E. não, de forma alguma a palavra perfeição é um exagero quando se fala de Forever Changes.
Foi no mesmo 1967 que cerca de cem mil jovens se reuniram e deram origem ao que se chamou de "Summer of Love", e exatamente nesse clima, nesse ambiente que, com Forever Changes, Arthur Lee de fato transformou aquele verão no verdadeiro "Summer of Love". E, como os mesmos jovens que festejavam a liberdade em todas suas formas, Arthur Lee devia se sentir extasiado, preenchido de uma nova sensação de vida. Sentir-se orgulhoso, completo e realizado: ele havia produzido um álbum tão fantástico quanto original e definidor. Uma obra de valor categórico para gerações e gerações de futuros estudiosos, críticos, apreciadores, fãs e ouvintes em geral se deleitarem.
Desde seus primeiros segundos, Alone Again Or, música que abre o disco, já soa como algo que você sabe que jamais esquecerá, e é com surpresa que tal sensação se repete música após música, refrão após refrão, acorde após acorde desse álbum fantástico. A inquietante A House Is Not a Motel, a doce Andmoreagain e absolutamente todas as canções que compõem esse álbum fenomenal são pequenas pérolas de valor inestimável, são composições de um espírito elevado que fariam qualquer simples e mortal compositor se morder de inveja para apenas na seqüência cantá-las à plenos pulmões e submeter-se à beleza melíflua e viciante das composições de Lee.
O ápice do álbum se encontra em sua última composição, You Set the Scene é, e sobre isso não resta dúvida, uma música que define perfeitamente o que é Love e o exemplo concludente da obra chamada Forever Changes.
Uma obra de arte para ter seu valor irrevogável deve sobreviver ao teste implacável ao qual o tempo lhe submete e You Set the Scene parece ainda mais relevante hoje do que então. Analizá-la em retrospectiva, hoje, em 2008, sabendo-se da morte de Arthur, apenas faz com que sua mensagem e impacto sejam mais densos e tocantes, muito mais dignos até mesmo de reflexão.

"This is the time and life that I am living
And I'll face each day with a smile
For the time that I've been given's such a little while
And the things that I must do consist of more than style

This is the only thing that I am sure of
And that's all that lives is gonna die
And there'll always be some people here to wonder why
And for every happy hello, there will be good-bye
There'll be time for you to put yourself on"

Sim, aquele foi o tempo e essa a vida que viveu Arthur e, naturalmente, tudo que vive, morre. Foi em 3 de agosto de 2006 que ele deixou tudo isso pra trás e embarcou em sua derradeira jornada. Enquanto é inevitável um sentimento forte de tristeza ao se perder alguém especial como ele, a esperança permanece que, alhures, Arthur Lee possa desfrutar de tudo que ele fez por merecer em vida, com (e sem) seu Love.


Love - Forever Changes










01 - Alone Again or
02 - A House Is Not a Motel
03 - Andmoreagain
04 - The Daily Planet
05 - Old Man
06 - The Red Telephone
07 - Maybe the People Would be the Times or Between Clark and Hilldale
08 - Live and Let Live
09 - The Good Humor Man He Sees Everything Like this
10 - Bummer in the Summer
11 - You Set the Scene


Discografia:

Love (1966) * * * *
Da Capo (1967) * * * * *
Forever Changes (1967) * * * * * √
Four Sail (1969) * * * *
Out There (1969) * * * *
False Start (1970) * * * *
Reel to Real (1974) * * *



Alone Again Or

Um comentário:

Unknown disse...

Esse álbum é muito bom! Obrigatório pra quem curte música boa!!!