terça-feira, 29 de julho de 2008

Tempos Estranhos ou Tudo Que Você Queria

A última década ou mais do coitado Rock, com que somos implacavelmente bombardeados por toda forma de difusão possível e imaginável, é marcada por uma peculiaridade significativa; os revivals, os requentados. O que era, anteriormente, um tipo de homenagem esporádica, característica relegada a este ou aquele movimento bem específico, contaminou toda uma geração. Nas décadas que precederam esta anomalia cultural generalizada, bandas e artistas, que ainda mereciam tal nomenclatura, buscavam incansavelmente formas de sempre inovar, mover adiante, inventar, ser pelo menos um pouco vanguarda. Desde Elvis até o meado dos anos 90 era essa a tônica, o modus operandi de quem queria conquistar seu lugar ao Sol.
Não é de se surpreender que tais décadas viram o surgir de incontáveis lendas, vários heróis e alguns mártires. Gerações e gerações de músicos com algo a dizer, ora concatenando-se, ora permanecendo gênios solitários e 'incompreendidos', fincaram os alicerces que seriam mais tarde usurpados até às últimas conseqüências por garotos sôfregos pela fama e estrelato.
Com alarmante frequência, nesses últimos anos, viu-se bandas medíocres sendo rotuladas como "a salvação do Rock" - um epíteto tão ridículo quanto non-sense - apenas para dentro de meses sumirem, cairem no esquecimento, se não no ostracismo, e passarem até a ser sinônimo de gosto duvidoso. Pior, rapidamente tais bandas angariaram seguidores que, buscando o spotlight, se influenciavam pelos imitadores sem talento, e junto aos próprios imitadores, que agora se imbuiam daquela aura estúpida e embaraçosa de 'oldschool', dominavam, mesmo que de forma fugaz, o mainstream e, surpreendentemente, até mesmo grande porcentagem do que ainda se ousa chamar de underground. De súbito, toda a cena musical emanava um miasma enojante e a falta de imaginação dos "artistas" era louvada com tanto fervor quanto amavam décadas antes a genialidade de alguns.
Porém, em plena era da escassez de inspiração, alguns indivíduos conseguiram, mesmo volta e meia exagerando seus mergulhos em fontes ancestrais, se destacar da banalidade. Artistas como Jon Spencer deram uma roupagem interessante e relevante às suas influências, criando músicas que valem a pena ouvir. No entanto, tais manifestações são hoje tão raras que são dignas de grande procela.
Eis que 2002 chega e traz consigo uma dessas novas revelações dignas, que deveriam ser muito mais ouvidas do que o são. THE BLACK KEYS, consistindo em apenas dois músicos, conseguiu agitar o marasmo e interessar até mesmo o ouvinte mais apático em relação à bandas novas. Seus dois primeiros discos ainda apresentavam alguns atavismos, porém gestavam um embrião de algo novo, interessante, algo que despertava interesse, extingüia a indolência, e com cada álbum que lançavam tal embrião parecia mais pronto à romper o que ainda o mantinha acomodado e ganhar o mundo. 2008 foi o ano que finalmente lançariam seu disco mais marcante e, aguardem... original. ATTACK & RELEASE soou à princípio aos ouvidos descrentes como o conjunto de músicas mais genial da última década, apesar de ser apenas um disco bom, muito bom. Tais já mencionados atavismos ainda estão presentes, mas são o que deveriam sempre ser, apenas referências interessantes, indícios de bom gosto e se, volta e meia, uma música lhe traz Beatles, ZZ Top ou Neil Young à mente, não é culpa de ninguém, e sim mérito, pois não são simples imitações, não soam como em outras bandas, como algo recauchutado e enganoso.
Apesar de, esporadicamente, este ou aquele artista se fazer ouvir em suas músicas, Black Keys consegue ter um som próprio, limitá-los à suas influências, por melhor que sejam, não é justo. Remember When (Side B) é um claro exemplo de quão atual e empolgante a banda pode soar sem fazer grandes reverências aos tempos passados e Strange Times é tão moderna que causa estranhamento à ouvidos algo conservadores ser tão boa e viciante. Attack & Release, da primeira à última música, é um disco irrepreensível, não há ali música que não seja, no mínimo, boa, enquanto outras são de fato excelentes como as já citadas Remember When (Side B) e Strange Times além de All You Ever Wanted, I Got Mine, Psychotic Girl e o magnífico trio de que encerra os breves 40 minutos do disco, So He Won't Break, Oceans and Streams e Things Ain't Like They Used to Be (a mais clara mesura à uma influência presente no disco).
Com Attack and Release o Black Keys conseguiu o que muitos tentaram e ficaram pelo caminho; fazer um som moderno (não modernoso) em que as influências trabalham a favor e não contra a qualidade da obra. Enquanto não se deve chamá-los de 'salvação do Rock' (quem disse que ele precisa ser salvo, pra começo de conversa?!), se tem a obrigação de reconhecer o mérito de Dan Auerbach e Patrick Carney (os membros da banda, pros mais lerdos) em conseguirem se destacar positivamente de seus contemporâneos.
Será que virão seguidores por aí?


The Black Keys - Strange Times
(do disco Attack & Release - vídeo não oficial)



The Black Keys - I Got Mine
(do disco Attack & Release)



The Black Keys - Girl is on My Mind
(do disco Rubber Factory - ao vivo)




The Black Keys - Attack & Release











01 - All You Ever Wanted
02 - I Got Mine
03 - Strange Times
04 - Psychotic Girl
05 - Lies
06 - Remember When (Side A)
07 - Remember When (Side B)
08 - Same Old Thing
09 - So He Won't Break
10 - Oceans and Streams
11 - Things Ain't Like They Used to Be


Discografia:

The Big Come Up (2002) * * * *
Thickfreakness (2003) * * * *
Rubber Factory (2004) * * * * * √
Magic Potion (2006) * * * *
Attack & Release (2008) * * * * * √

√ - (Volume-11 pick)

Um comentário:

Unknown disse...

Já ouviu o trabalho solo de Dan Auerbach? Recomendo! É tão bom quanto o Black Keys!