quinta-feira, 21 de agosto de 2008

You can use it as a weapon or to make some woman smile

NEW SKIN FOR THE OLD CEREMONY veio no ano de 1974 e, completando cinco discos em sua bagagem, talvez fosse então que a fortuita aventura como singer/songwriter de LEONARD COHEN começava a fazer frente à sua moderadamente festejada carreira como poeta e novelista. Talvez apenas Burroughs, antes dele, Cohen, tenha trilhado um caminho longe de idêntico, mas pelo menos levemente similar, migrando de atrevimentos literários bem sucedidos para incursões no mundo da música, porém, enquanto Cohen distilava com extrema imprudência e hablidade suas desaventuras amorosas e contos de vidas erráticas, imaginados ou não, Burroughs apenas se limitava à participações de fato especiais em trabalhos de terceiros, logo, equipará-los em tal âmbito é algo próximo a inimaginável.
Comparado aos discos que o precederam, New Skin é como o primeiro inspirar sem máquinas de um paciente recém saído de um longo e solitário coma. Tematicamente, não é um álbum tão pesado quanto seus predecessores, e, muito embora seus perdedores românticos e vãos conquistadores (sempre se confundindo) ainda sejam as vítimas dos libelos de Cohen, suas histórias são tingidas com nuances traiçoeiramente esperançosas. Os mesmos temas, recorrentes em toda sua obra, estão lá; plácidas referências ambíguas à vidas militares, uma doce/amarga distorcida religiosidade, seu insensível sempre autodepreciativo senso de humor e alusões metalinguísticas, as mulheres que vão da invulnerabilidade à fragil loucura em uma mesma estrofe e, naturalmente, o sexo.
Is this What You Wanted abre o disco com seu ritmo obtuso e Leonard diminui-se perante uma mulher (You were Jesus Christ my Lord / I was the money lender), trata suas lembranças comuns como assombrações (is this what you wanted / to live in a house that is haunted / by the ghost of you and me), apenas para, naturalmente, ao fim, entregar a si mesmo, como uma dádiva improvável, o controle da situação (you said you could never love me / I undid your gown), um microcosmo da inexorável realidade das relações amorosas entre gêneros.
Durante toda sua duração, Cohen, pela primeira vez acompanhado de bandolins, violas, banjos e percussões, usa como metáfora os campos de batalhas para falar de relações conjugais e entre obras primas como A Singer Must Die, onde invoca uma auto justificada punição por seus crimes contra a moral em suas canções, I Tried to Leave You, Why Don't You Try e a estupenda Field Commander Cohen, Leonard exprime seu instigante conflito entre esperança e consternação enquanto fala do que "era chamado amor pelos operários das canções".
O ponto mais alto entre todos os pontos altos do disco é a assumidamente autobiográfica Chelsea Hotel No. 2 e, certamente, é também a única justificativa para a existência desinteressante de Janis Joplin no mundo da música (além da história que meu pai - Deus o tenha - sempre contou, com certo hálito de uísque, de como foi pegá-la quando ainda era jovem e morava em Brasília... quando ela ainda era negra).
Na mesma música, Cohen oscila entre elogios afetivos (I remember you well in the Chelsea Hotel / you were talking so brave and so sweet) e réplicas tardias à provocações (You told me again you preferred handsome men / but for me you would make an exception / and clenching your fists for the ones like us / who are oppressed by the figures of beauty / you fixed yourself [...]) apenas para terminar, após tão 'belas' memórias, desprezando-as como nada mais que isso, lembraças corriqueiras de um passado insignificante que rescende à sexo e outros abusos (I don't mean to suggest that I loved you the best / I can't keep track of each fallen robin / I remember you well in the Chelsea Hotel / That's all, I don't think of it that often).
Mesmo numa obra sólida como é a de Cohen, um disco como New Skin consegue se destacar de forma a não deixar dúvida que é um daqueles discos cujas glórias possuídas, por maiores que sejam, não fazem jus à sua grandiosidade e qualidade, e, nesse caso, tal qualidade das músicas é apenas suplantada pela perfeição milimétrica das letras. Uma vez que New Skin começa, nota-se que se trata de alguma coisa diferente, de um gênio em sua era mais áurea em perfeita execução de seu dom, e uma vez que ele acaba, você está dispensado para "voltar à nada especial [...] e outras formas de tédio anunciadas como poesia".


Leonard Cohen - Chelsea Hotel No.2
(do disco New Skin for the Old Ceremony)


Leonard Cohen - A Singer Must Die
(do disco New Skin for the Old Ceremony)



Leonard Cohen - New Skin for the Old Ceremony










01 - Is This What You Wanted
02 - Chelsea Hotel No.2
03 - Lover Lover Lover
04 - Field Commander Cohen
05 - Why Don't You Try
06 - There Is a War
07 - A Singer Must Die
08 - I Tried to Leave You
09 - Who by Fire
10 - Take this Longing
11 - Leaving Green Sleeves


Discografia:

The Songs of Leonard Cohen (1968) * * * * * √
Songs From a Room (1969) * * * * *
Songs of Love and Hate (1971) * * * * * √
Live Songs (1973) * * * *
New Skin for the Old Ceremony (1974) * * * * * √
Death of a Ladies' Man (1977) * * * *
Recent Songs (1979) * * * *
Various Positions (1985) * * *
I'm Your Man (1988) * * * * *
The Future (1992) * * * * *
Ten New Songs (2001) * * * *
Dear Heather (2004) * * * *
Book of Longing (2007) * * * *

√ - (Volume-11 pick)

Um comentário:

Nimrod disse...

Welcome home, prick!