quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Bury My Heart at Wounded Knee

A década 70 talvez tenha sido o derradeiro momento em que os 'rockeiros' concluíram sua migração da marginália para a História. Com máquinas de divulgação (e mentalidades) superiores às decadas precedentes, o Rock tornava-se muito mais que uma música, transmutava-se em instrumento de protesto, válvula de escape de gerações castradas, vítima das experimentações psicotrópicas e ponto de partida para tantas outras, encontrando-se e coalescendo-se à outros estilos, ampliando seu leque original de possibilidades.
Músicos lendários, transpirando genialidade e substâncias ilícitas, empunhavam seus instrumentos e com eles forjavam a mais nova e relevante forma de mitologia para uma juventude sedenta por transformações e carentes de uma voz.
A famigerada década viu o surgir de um gênero tão amplo quanto ambicioso, cujos meandros, fomentados por alguns álbuns do fim da década anterior, variavam indefinidamente de um grupo para o outro, porém com a única constante de privilegiar músicos habilidosos e temáticas grandiosas. O rock progressivo, e com ele a noção mais exata de 'álbuns conceituais' nascia das sementes lançadas por Sgt. Peppers, Pet Sounds, Sell Out e Tommy, e, desde então, lançava suas próprias sementes e recusava o direito de ser sucinto, chafurdando cada vez mais em auto-indulgência e, finalmente, no quid pro quo de músicas por adoração, ganhou a História.
Com o rock progressivo, longas composições ambiciosas passaram a dominar o léxico músical e álbuns conceituais se tornaram uma constante praticamente obrigatória. Pink Floyd teve The Wall e, em certa medida, também Dark Side of the Moon, Yes, Rick Wakeman, Genesis, Jethro Tull Rush e até David Bowie, que virou Ziggy Stardust (embora longe de poder ser considerado progressivo), entre tantos outros grupos inauditos tiveram grande impacto e importância na consolidação do modus operandi do gênero e, com seus lançamentos conceituais um atrás do outro marcaram uma geração inteira. Geração que talvez tenha em Future Days, do Can, o exemplo mais formidável e desconhecido de um álbum conceitual de tal Era.
A temática, embora muitas vezes similar entre este ou aquele grupo, versava desde estrelas do rock disfuncionais e suicídas (Floyd) à esposas de imperadores (Wakeman) e lendas interplanetárias (inúmeros outros), no entanto, mesmo quando díspares, carregam em comum uma grandiosidade simétrica à ambição de cada grupo em particular e isso é um dos fatores que torna tão marcante um disco que saiu dos confins da alemanha reinada pelo Krautrock, lançado por um grupo chamado GILA.
BURY MY HEART AT WOUNDED KNEE, de 1973, poderia ser considerado pelos fãs radicais de progressivo como um insulto. Inexistem os inolvidáveis solos quilométricos de guitarra, não estão lá as baterias desafiadoras e as tantas outras peculiaridades excêntricas do gênero. Muito pelo contrário. Bury My Heart at Wounded Knee é um disco estranhamente sucinto para o gênero, tanto em forma quanto em conteúdo. No lugar das ego-trips, das histórias mitológicas ou das vidas abrilhantadas das realezas, suas letras são retiradas de textos indígenas, sua inspiração, de um livro que conta um dos últimos grandes conflitos entre indígenas e 'homens brancos' nos EUA.
No que foi seu terceiro disco, Gila, então consistindo quase apenas de membros do portentoso grupo Popol Vuh, encontra-se num momento muito mais etéreo e singular do que anteriormente. Apesar de em seu primeiro disco auto-intitulado (mas muitas vezes chamado de Free Electric Sound), o som do grupo consistir em longas, explosivas e inspiradíssimas jams, em Bury My Heart não há sinal de ostentação e, tendo em vista que se trata de um disco conceitual de suposto rock progressivo, é um tanto quanto minimalista. Porém, no que foi poupado em termos de pirotecnia, os membros da banda esbanjam em ambiencia e feeling, o que o torna em um dos documentos mais interessantes e peculiares não só do progressivo, mas do próprio fértil Krautrock, um álbum cuja beleza envolve mansamente no lugar de forçar-se notória através de comportamentos disparatados tão comuns ao gênero.
Bury My Heart at Wounded Knee é mais uma das pérolas fantásticas do Kraut que permaneceram obscuras e esquecidas, um disco que, não resta dúvida, deveria encabeçar qualquer listagem de discos fundamentais, um trabalho idiossincrásico que, sem procrastinar, é digno de todos os elogios. Simplesmente obrigatório e imprescindível.


Gila - Sundance Chant
(do disco Bury My Heart at Wounded Knee)



Gila - Bury My Heart at Wounded Knee










01 - This Morning
02 - In a Sacred Manner
03 - Sundance Chant
04 - Young Coyote
05 - The Buffalo Are Coming
06 - Black Kettle's Ballad
07 - Little Smoke
08 - Mindwinds Are Heartfrost

Discografia:

Gila (Free Electric Sound) (1971) * * * * *
Night Works (1972) * * * *
Bury My Heart at Wounded Knee (1973) * * * * * √

√ - (Volume-11 pick)

4 comentários:

Anônimo disse...

Nice music.
Could you put all the tracks on youtube?

Anônimo disse...

Nice music.
Could you put all the tracks on youtube?

Anônimo disse...

Oi, sou helio,de brasilia. Desde 73,quando criança, conheci o gila, comprei o electric sound...hoje adulto vivo procurando info e videos sobre o gila. Na epoca tambem conheci muitos grupos alemas ouvindo uma colecao do antigo selo Sabado Som chamada German Rock Scene. Gostaria de receber mais info sobre o gila e tambem se voces conhecem a colecao de 03 lps. Meu contato: helio1804@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Sou Helio, de Brasilia. Desde 1973, quando criança, descobri o Gila comprando um LP oferecido pelo vendedor como novidade em progressivo. Sempre que eu tinha uma grana comprava um LP de progressivo. Comprei o Electric Sound. Agora com internet e youtube encontro alguma coisa desse grupo. Estou atras de info e videos. Na epoca tambem comprei 01 LP de uma colecao de 03 chamada German Rock Scene. CPJr, vc conhece esses LP? Gostaria de gravar em CD.
Se tiver mais info do Gila, manda pra mim, ok? Mande pra helio1804@yahoo.com.br