sexta-feira, 14 de junho de 2013

It's not meant to be a strife...



(para acompanhar a leitura)
Harvey Milk - One of Us Cannot Be Wrong

A noite corre em enganos e embaraços, frases pela metade, covardia e falta de coragem acelerando respirações e induzindo ao erro vexatório. Na escuridão ao redor, insinuações jocosas, elogios funcionais e, mais uma vez, a hipócrita procura pelo que se teme, se evita. A bebida que anula o julgamento é a mesma à qual se recorre (posteriormente) para aguçá-lo, em vão. Olhares e toques casuais tomados por desejo e pensamento, pedaços de carne sem vontade se roçam no espaço por falta de sorte ou por atração doentia e reprimida. Há quem clama amor, há quem dê amor, mas não há quem saiba recebê-lo, a breve história do zeitgeist. Carícias em costas indiferentes.

Num canto qualquer, amores alcalinos nascem e morrem. Roupas transparentes revelam tudo o que se tem para mostrar, e nada além disso, enquanto braços cruzados desenham no ar, na luz que cerca, a clara falta de entrega e amor que pixações demagogas reproduzidas pelas paredes da cidade exigem. No barulho de copos que brindam, de pessoas que riem e da música que toca, oculta-se o pudor desmedido e o medo de corações abertos, corações entregues, corações famintos feito lobos negros. Amenidades insípidas tomadas por vislumbres de vida, tudo tão vazio, tão cheio de nada, o grande trompe l'âme humano em exibição nos olhares impostores dos falsos amantes. Cantos de bocas que se roçam em despedidas permanentes.

O sol do inverno refletindo na piscina e a ilusão de liberdade queimando no peito. Entre garrafas verdes e mergulhos corajosos dilui-se a impressão de que tudo é sem sentido. A sensação de eternidade descansa à sombra das palmeiras plantadas em concreto e a música abraça tudo em seu caminho. Risadas e apertos de mãos e planos pro futuro é tudo que se precisa e tudo que se tem. A frieza de contas pagas e aventuras sexuais tomadas pela experiência real do amor. Garrafas que voam e segredos que se contam constroem uma definição contemporânea de amizade. O rádio toca alheio e a vida continua, simples e caótica na mesma medida. O sol se põe, mas amanhã nascerá novamente.

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