(escute: Lower Dens - Rosie)
Sendo
assim, voltou à cidade onde viveu tanto tempo e dirigiu pelas mesmas
ruas vendo os mesmos rostos mais velhos ou rostos diferentes. Passou
pela frente da casa onde alguém algum dia morou e lembrou da vez que
dormiram e acordaram no quarto dos pais e, lado a lado,
provavelmente, tiveram o mesmo sonho, já que todo mundo ali sempre
sonha o mesmo sonho, dormindo ou acordado.
E
lá, olhando a casa, sentiu-se sozinho.
Na
cidade pequena onde cresceu subiu a pedra e, junto a árvores e
antenas, esperou pela noite de inverno. Sentado no chão agarrando folhas segurava
a mão do planeta e de mais ninguém. Quando finalmente a noite caiu sobre a montanha, era o sol distante, rebatido numa bola de rocha
brilhante flutuando no espaço, que iluminava o relevo com luz azul e
silêncio. E na solidão da altitude olhava as luzes da cidade
distante abaixo hesitantes. Apesar de só, sentiu-se acompanhado
e quis, com alguém, dormir sob a luz da lua, sob os galhos das
árvores, sobre a montanha azul.
E
no carro, voltando para casa, sentiu-se sozinho.
Como
a Lua, seu peito estava cheio e na escuridão do vale repousava suas
costas em camas macias demais e ouvia morcegos que voavam muito
próximos. Entre paredes e corpos nus a única certeza era da morte
algum dia e do retorno inevitável ao mundo real, ao trabalho, às garotas, diferentes, às frivolidades, idênticas. Sendo assim, mais um mês rumo ao infinito se arrastava
no exercício fútil de existir e respirar. Um mês atrás havia saído de casa
procurando esquecer, voltava agora com novas lembranças.
E
vendo a paisagem que corria pela janela, como de costume, sentiu-se
sozinho, porém feliz.